“OS ONZE GRANDES DO CINEMA
Outro dia, minha amiga Danuza Leão
arregalou muito os seus grandes olhos azuis e me perguntou no seu jeito juvenil
de falar quais eram para mim os 11 maiores diretores de cinema. Pertence ela a
uma geração que viu Chaplin pela primeira vez agora, quando da exibição de Luzes da cidade. Fui para casa e
comecei a pensar no assunto. A pergunta não deixa de ter seus lados difíceis e
não foi sem bastante cogitação que cheguei a arrumar o scratch abaixo, scratch porque agora anda a mania de se resolver tudo em termos de futebol, e
até um scratch de chatos já foi
feito. Eis a resposta a Danuzinha:
Chaplin
Griffith – Stroheim
Eisenstein – Pudovkin – Dovchenko
Flaherty – Gance – Vigo – Dreyer – King
Vidor
Desse supertime
quatro não poderão mais jogar por se acharem devidamente falecidos: D.W.
Griffith, Eisenstein, Robert Flaherty e Jean Vigo. A razão pela qual coloquei
Chaplin ao goal deve ser por essas horas clara para minha amiga Danuza. Ela certamente
terá visto Luzes da cidade, e se não viu o filme pode se considerar de relações
formalmente cortadas comigo. Chaplin é não só o maior diretor de cinema de
todos os tempos, como o único cineasta que conseguiu reunir todas as funções do
métier nele mesmo.
A
colocação de King Vidor como extrema direita é qualquer assim como se pôr
Leônidas num time ideal de futebol brasileiro – um pouco pelo respeito ao seu
passado de grande jogador. King Vidor realmente caiu muito, mas filmes seus
como A turba, Aleluia e No turbilhão da metrópole justificam, pela força do cinema que
contêm, a sua inclusão neste quadro de gigantes. King Vidor é, a meu ver, o
menor deles e não fosse por esse respeito eu o substituiria por reservas mais
válidos como Hitchcock, Pabst, René Clair e poucos mais.
É pena que Danusa não tenha visto nenhum filme de todos esses grandes cineastas mencionados, e a única esperança para ela e a grande maioria dos jovens de sua geração de vê-los, é a criação que se cogita de uma Cinemateca Brasileira - um dos departamentos, a ser criado (se o congresso quiser)."
Vinicius de Moraes, Última
Hora, 10 de dezembro de 1951
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