José de Madrazo y Agudo, A morte de Viriato, chefe dos Lusitanos
"A Lusitânia não é mito dos humanistas do Renascimento. É, a par de um nome que individualiza uma região planetária, um sinal que indicia uma realidade existencial própria, mesmo que os resíduos utilizáveis pelos sucessores e posteriores, careçam de global inteligência e compreensibilidade. A Lusitânia corresponde à zona húmida da Hispânia, onde se constituiu o meio entrópico de Portugal hispânico, como que diverso da zona de sequeiro da Península, onde prevaleceu a masculinidade castelhana, mais arrebatada do que a feminilidade, a frouxidão e a cisma da vertente lusitana. Quando dizemos que antes dos Lusitanos o que sabemos é o pouco que sabemos acerca dos povos anteriores - povos sem história - queremos significar que esse «sem história» se refere mais à nossa ignorância do que à inexistência de uma história, mas da Lusitânia sabemos quanto importa a uma definição, ainda que mais prospectiva do que perspectiva. Olhada retrospectivamente, a Lusitânia é mais do que uma perspectiva da origem, uma prospectiva do meio em que se afirmou uma entidade singular e diferente. E o carro da criação de Portugal. (...)
Lusitânia é a matriz de uma condição histórica, o poente barroco, a extremitate mundi. No Oriente, há uma ponte, a balcânica, da Europa para a Ásia. No Ocidente há a ponte hispânica, funcionando da Europa para todo o mundo. Ponte cultural é, mais do que fenómeno geográfico, uma capacidade de leitura, de síntese e de transmissão, é a virtude do pontificado cultural. Receber a herança e não a delapidar, antes a inscrever e transmitir. A categoria apresenta-se diurna e nocturnamente. A Lusitânia é uma campo, um pagus, uma região, que separa da Europa e, no entanto, a ela se mantém unida, tanto como procura unir-se a todo o mundo. Mais do que Nação, onde se nasce, é uma Pátria."
Pinharanda Gomes, História da Filosofia Portuguesa, 2- A Patrologia Lusitana, Lisboa, Guimarães Editores, 2000, pp.15-22.
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