Fotografia de Pedro Macedo-Framed Photos, daqui.
"O teatro português vem da origem da nacionalidade; a sua autonomia social, cultural e linguística está devidamente documentada a partir de 1193, quando D. Sancho II concede aos jograis, Bonamis e Acompaniado, um casal em Canelas de Poiares do Douro e recebe dos beneficiados pela dádiva real «um arremedilho para efeito de compensação»: trata-se aqui da fonte mais antiga da História do Teatro Português e também do primeiro documento consagrado do que hoje chamaríamos direitos autorais, devidamente retribuídos e compensados...
A partir do século XII, são numerosos os documentos que atestam uma atividade de produção de espetáculos, na corte, nas Igrejas ou nas praças públicas - e esses espetáculos, como qualquer espetáculo teatral, pressupõe um texto, consagrado ou perdido, escrito ou improvisado, mas sempre, isso sim, um texto que sirva de suporte à apresentação perante um público.
E nem de outra forma se compreenderia que, a partir, concretamente, de 1502, Gil Vicente surja «em cena» com a profusão da sua obra, a genialidade dos textos e precisamente, ainda, o sentido de espetáculo, num conjunto notável de géneros e numa clara transição da tradição do teatro medieval para a intuição de novas expressões do teatro do Renascimento (...)"
Duarte Ivo Cruz
"O Teatro Nacional D. Maria II abriu as suas portas no longínquo ano de 1846 com a apresentação do drama histórico Álvaro Gonçalves, o Magriço e os Doze de Inglaterra, de Jacinto Heliodoro de Faria Aguiar de Loureiro.
Passados 168 anos, Portugal mudou, mudou muito e somos hoje uma comunidade muito diferente daquela que deu início à aventura deste teatro. (...)
Se é certo que os teatros nacionais foram criados como representantes simbólicos da identidade nacional, de um passado ilustre e de uma promessa de futuro glorioso, pensamos hoje o Teatro Nacional D. Maria II como uma instituição de coesão da comunidade de artistas e de públicos que constituem a sociedade e a cena cultural portuguesas.
Simbolicamente ao centro, no Rossio da cidade capital, acreditamos, porque sabemos o que o tempo ensina, que os clássicos ajudam a ler o mundo e a nossa realidade, as contradições do nosso tempo na voragem das mudanças sempre anunciadas. Mas essa centralidade, mais do que simbólica, conquista-se na justa capacidade de convocar os outros (...) para ocuparem esse mesmo centro, com condições de produção, de visibilidade e de acesso reforçadas. Um Teatro Nacional cultiva, com tempo, estação a estação, uma paisagem humana e constrói redes de colaboração e de trabalho, raízes invisíveis mas solidárias, com múltiplos agentes culturais e educativos, e com os seus públicos.
A dimensão de um Teatro Nacional é a dimensão da sua comunidade."
Carlos Vargas - Presidente do Conselho de Administração do Teatro Nacional D. Maria II
Agenda 2014, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2013.
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