“O poeta inglês Samuel Taylor Coleridge acabou por
me criar – admito que involuntariamente – um problema que quase chega à
dignidade de enigma. Na sua Biographia
Literaria, de 1817, cita ele um eventual catálogo de antimnemónicas que
Averroes terá publicado algures no século XII. (…) Esta lista inclui «comer
fruta verde; contemplar as nuvens ou coisas móveis suspensas no ar; ir numa multidão
de camelos; o riso frequente; ouvir piadas e anedotas; (…). O mistério está em
que não se encontra tal catálogo nas obras de Averroes e não se explica – a não
ser por uma necessidade gracejante ela própria toda antimnemónica – por que
teria Coleridge inventado tal enumeração e tal atribuição a Averroes. (…)
Coleridge acaba o capítulo VII a enumerar também os fortalecedores da memória:
«uma lógica saudável (…); o conhecimento filosófico dos factos, na relação de
causa a efeito; um temperamento alegre e comunicativo que nos dispõe a reparar
nas semelhanças e nos contrastes entre as coisas (…); uma consciência
tranquila; uma condição livre de ansiedades; boa saúde e, acima de tudo (no que
diz respeito à recordação passiva), uma digestão saudável; estas são as
melhores, são as únicas, artes da memória.»”
Luísa Costa
Gomes, “As antimnemónicas”, Notícias Magazine,
21 de setembro de 2003.
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