Egito, Assuão: o rio Nilo e o deserto (maio de 2010)
“Antes da
unificação política do Egito, que terá ocorrido cerca de 3000 a. C., já a
região nilótica a norte da primeira catarata estava unida do ponto de vista
cultural e material, com o rio Nilo a cumprir a sua milenar missão de polo
congregador de populações vindas do Norte e do Sul, e também, ao longo dos V e
IV milénios a. C., núcleos humanos fugindo de regiões vizinhas do Leste e do
Oeste cada vez mais desertificadas. A riqueza da terra banhada pelo Nilo, com
notória abundância de recursos e de grande fertilidade, justificou que os Egípcios
chamassem ao seu país «A Negra» (Kemet ou Kemi), aludindo à cor escura da sua
úbere terra agrícola, surgindo ainda nos textos os nomes de Ta-meri (Terra
Amada) ou Te-netjeru (Terra dos Deuses). Era um nítido contraste com a árida
terra vermelha do deserto circundante (…). Quanto ao nome que os Egípcios
atribuíam a si próprios, ele demonstra igualmente uma lógica e notável
simplicidade: eram os Remetu-kemi, os «Homens da (terra) negra», ou Negros, e
esta designação impunha-se por oposição aos Khasetiu, os nómadas do deserto,
aos quais ainda se aplicava, entre outras, a curiosa designação de Chasu, ou «Corredores
da areia», e também por oposição aos Nehesiu, os Pretos das regiões a sul da
primeira catarata, e que depois se associou à designação mais genérica de
Núbios.
A
existência de duas realidades geográficas levou a que ao longo de três mil anos
de história se refletissem a nível político e ideológico: o Alto Egito ou
Ta-chemau, e o Baixo Egito, ou Ta-mehu. E nesta circunstância avultava o papel
centrípeto do líder, desde cedo rei e deus, a que se juntava a língua como
fator de unidade nacional.”
Luís Manuel de Araújo, Os Grandes
Faraós do Egito – 30 Faraós, 30 Dinastias, Lisboa, A Esfera dos Livros,
2011, pp. 47-48.
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