Mural do Museu Sagarana, em Itaguara, Minas Gerais, Brasil.
Foto daqui.
“Quando vim, nessa viagem, ficar uns tempos na fazenda do meu tio Emílio, não era a primeira vez. Já sabia que das moitas de beira de estrada trafegam para a roupa da gente umas bolas de centenas de carrapatinhos, de dispersão rápida, picadas milmalditas e difícil catação; que a fruta mal madura da cagaiteira, comida com sol quente, tonteia como cachaça; que não valia a pena pedir e nem querer tomar beijos às primas; que uma cilha bem apertada poupa dissabor na caminhada; que parar à sombra da aroeirinha é ficar com o corpo empipocado de coceira vermelha; que, quando um cavalo começa a parecer mais comprido, é que o arreio está saindo para trás, com o respectivo cavaleiro; e, assim, longe outras coisas. Mas muitas mais outras eu ainda tinha que aprender.
Por aí, logo ao descer do trem, no arraial, vi que me esquecera de prever e incluir o encontro com Santana. E tinha a obrigação de haver previsto, já que Santana – que era também inspetor escolar, itinerante, com uma lista de dez ou doze municípios a percorrer – era o meu sempre-encontrável, o meu «até-as-pedras-se-encontram» - espécie esta de pessoa que todos em sua vida têm.”
Palavras iniciais do conto de João Guimarães Rosa, “Minha Gente”, da obra Sagarana, Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira, 28ª edição, 1984, p. 185.
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