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Escola Secundária José Saramago - Mafra

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

DONA GRACIA NASI - A SENHORA

O percurso de Dona Gracia Nasi e da sua família, após a fuga de Portugal, em 1537.
Imagem daqui.


Excerto da primeira parte da obra A Senhora, de Catherine Clément.

"1510-1536
A MENINA DA MAÇÃ VERMELHA
Nós, os Marranos vindos da Península Ibérica, nunca tivemos o direito de usar os nossos nomes judeus. Tínhamos de escolher entre partir ou mudar de identidade. Quantos nomes usámos nós, quantas vezes os mudámos… Perpétuos mascarados, eis o que somos. Em Portugal, era João Miguez, em Inglaterra, em Veneza, em Ferrara, John Miquez, Juan Micquez, ou ainda, Juan Micas, como queiram; aqui, Yusuf Nasi… E ela, como lhe chamarão os vindouros? Gracia, Hannah ou Beatriz?
A Senhora nasceu em Portugal, em 1510, sob o nome cristianíssimo de Beatriz de Luna. Eu vim ao mundo cinco anos mais tarde; era filho de seu irmão mais velho, que tinha, por seu lado, tomado o nome de Miguez. O nosso verdadeiro nome era Nasi, que quer dizer príncipe. Pobres de nós! Nessa época já não éramos príncipes, mas proscritos disfarçados.
Quando os reis espanhóis decidiram expulsar o nosso povo, a Senhora não era nascida. Mas a história dessa calamidade marcou, desde o nascimento, os filhos dos primeiros exilados. (…)
O dia 31 de Março de 1492 foi um dia de luto para o povo judeu e assistiu ao começo de novo êxodo. Deram quatro meses aos nossos antepassados para deixar tudo; eles partiram em plena canícula, no mês de Agosto, pelas estradas calcinadas, e levaram apenas as Toras. Diz-se que para os encorajar naquela marcha esgotante, se cantava, e que as crianças tocavam tambores; houve mortes, houve nascimentos; uns foram até ao mar, ao Sul, e alguns embarcaram; outros foram para Portugal. Foi o caso da nossa família que se instalou na capital.
Se os Judeus eram pobres, pagavam cada um oito cruzados à chegada e obtinham oito meses de tranquilidade; se eram ricos, à razão de cem cruzados por pessoa, podiam estabelecer-se em Portugal. Os Nasi tinham dinheiro; permaneceram, mudaram de nome e acreditaram estar salvos. Era não contar com o obstinado fervor de Isabel, a Católica, que deu sua filha Isabel a Manuel de Portugal; quatro anos depois do édito espanhol, era a vez do rei Manuel obter do Papado o direito a expulsar os seus Judeus como os soberanos de Espanha. Foi o que em breve aconteceu."
Catherine Clément, A Senhora, Porto, ASA Editores II, S. A., 2002, pp. 19-21.

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