Poesia Visual: Epitalâmio Barroco (Século XVIII)
Imagem daqui.
“Quando no século XVIII Voltaire dizia que «a escrita é a pintura da voz» e no século anterior Georges de Brébeuf observava que a escrita é «uma arte engenhosa de pintar a palavra e falar aos olhos», ambos faziam eco do pensamento de Aristóteles que, na sua Lógica, afirmou que enquanto as palavras faladas são os símbolos da experiência mental, as palavras escritas são os símbolos das palavras faladas. (…)
Quando a velha arte da escrita, tendo-se lentamente libertado das peias da originária função de puro registo de factos ou coisas e sacralizando os seus símbolos desenvolveu a consciência do seu carácter artístico, abriram-se as portas para as mais diversas formas de representação, incluindo a perturbante categoria do belo, que frequentemente se faz acompanhar da assistência do ornamental, do decorativo. (…)
Quando o poeta não apenas escreve mas pensa a escrita, penetra no âmago da sua própria criação, e o leitor, refazendo esse percurso, torna-se também, de certa maneira, um criador, repondo no texto a presença do autor que a escrita obliterara.
O mundo da escrita é o mundo do silêncio que a leitura anima. A escrita é uma fala muda, reproduz o silêncio do mistério que o iniciado penetra através da leitura. Os antigos compreenderam o significado profundo desse processo e por isso equipararam o entendimento do mundo à leitura de um livro cuja interpretação competia aos iniciados que deveriam empenhar-se tanto na descoberta como na preservação dos seus enigmáticos segredos. (…)”
Ana Hatherly, “A Escrita como Arte de (Re)Conhecer”, in AA.VV., A Escrita das Escritas, Coordenação de Luís Manuel de Araújo, obra editada por ocasião da exposição A Escrita: Traços e Espaços, Lisboa, Museu das Comunicações, Fundação Portuguesa das Comunicações e ESTAR Editores, 2000, pp. 167-170.
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