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Escola Secundária José Saramago - Mafra

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

BEATRIZ DE LUNA, aliás GRACIA NASI

Dona Gracia Nasi, selo comemorativo de 1992.
Imagem daqui.


"Figura cimeira da história do sefardismo, Beatriz de Luna é mais conhecida pelo seu nome judaico: Gracia Nasi. (…)
Terá nascido em Lisboa, por volta de 1510, no seio de uma importante família de cristãos-novos. A data do seu casamento com o importante banqueiro Francisco Mendes também é desconhecida, no entanto, alguns autores, como Cecil Roth, avançam com a hipótese de ter sido em 1528. O casamento seguiu o rito católico mas não é de excluir a hipótese de que no interior do lar tivesse tido lugar uma cerimónia judaica.
Este casamento terá sido relativamente breve, uma vez que Francisco morreu logo em 1535, pouco tempo depois do nascimento da sua única filha Ana Mendes. Com a viuvez, Beatriz ganha um novo estatuto e uma nova posição na sociedade do seu tempo, o que viria a conceder-lhe prerrogativas completamente estranhas às mulheres do seu tempo. Hábil mulher de negócios, Gracia geriu desde muito cedo os destinos da casa Mendes, uma das principais casas comerciais da época. No entanto, os seus biógrafos não hesitam em realçar a sua faceta religiosa, dimensionada no seu apoio às edições de cariz religioso, à construção e sustentação de diversas sinagogas em território otomano e, talvez o aspecto mais importante, o projecto de refundação de Tiberíades, uma das mais importantes cidades do judaísmo, o local para onde fugiram os sacerdotes após a destruição do Templo de Jerusalém no século I d.C., e o local onde foi compilada a mishnah. A admiração por esta «mulher de armas» começou logo no seu próprio tempo, a Senhora (termo pelo qual é comummente designada) está presente nos relatos escritos de todos aqueles que directa ou indirectamente com ela se cruzaram. (…)
Contudo, após a morte de Francisco, a sua posição era bastante melindrosa uma vez que as fortuna dos Mendes era extremamente cobiçada pela corte de D. João III. O rei toma providências para fazer o inventário de bens de Francisco, que é executado, apesar dos protestos da família, quatro anos após a morte do mesmo. Uma outra frente de pressão da coroa sobre a família centra-se na filha, uma das herdeiras da fortuna dos Mendes. O rei tenta por todas as vias levar a jovem Ana para a casa da Rainha Dona Catarina, visando o seu futuro casamento com algum elemento próximo da casa real. (…) Um outro aspecto que dificultava a posição dos Mendes em Portugal, após a morte de Francisco, relacionava-se com as complicadas negociações entre Lisboa e Roma, a fim de estabelecer a Inquisição em Portugal, o que era contrariado – e financiado – pelos Mendes a partir de Antuérpia. A correspondência do núncio estante em Portugal demonstra bem essas dificuldades.
Por todos estes motivos, a manutenção da família em Lisboa é cada vez mais insustentável e a fuga acaba por ocorrer em 1537 (já depois do estabelecimento do Santo Ofício). (…)”

“Luna, Beatriz de”, entrada do Dicionário Histórico dos Sefarditas Portugueses – Mercadores e Gente de Trato, Direção Científica de A. A. Marques de Almeida, Lisboa, Campo da Comunicação, 2009. Projeto financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia e cofinanciado pela Cátedra de Estudos Sefarditas “Alberto Benveniste”

A ler:
Catherine Clément, A Senhora, Porto, ASA Editores II, S. A., 2002.


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