“A norte
do Magrebe, atravessado o mar, situa-se o país chamado Al-Andaluz,
ou Djazîrat al-Andaluz, nome que, na linguística árabe, substituía
as toponímias fenícia de Span,
hebraica de Sefarade, latina de Hispania ou de Spania. Nesta palavra compreende-se a Península Hispânica na sua integridade
territorial e populacional. Os povos de Spania eram, pois, os povos andaluzes, ahl-al-Andaluz, termo que em breve se tornou predominante na geografia árabe.
O Andaluz,
Alandaluz, é um país de forma triangular com três vértices: Cádis, Barcelona e
Galiza, com o comprimento de 1100 milhas (desde a igreja do Corvo, no Cabo de
São Vicente, ao Templo de Vénus, em Port Vendres) e a largura de 600 milhas,
constituindo-se como a excelente «região do equilíbrio», não obstante o seu
nome provir de al-Andalish, a Vandalícia, e um que outro geógrafo não
hesita em chamar pelo nome de Ishbâniya,
a corruptela árabe de Hispânia. Dentro
do Andaluz há dois: o oriental, cujas águas fluem para o mar Azul, e o
ocidental, que verte para o mar Verde. O primeiro é o Andaluz propriamente
dito, o segundo é o Al-Gharb, o Gharb
al-Andaluz, o ocidente do Andaluz, o
Algarve. Neste corpo hispânico, duas regiões oferecem perfil singular: Castela,
o centro geográfico, e a Galiza, a Jaliquia, terra dos descendentes de Jafé, o filho mais novo de Noé. Esta região
segue-se ao Algarve, na direcção do norte, para além de Braga, quase tocando o
mar dos Ingleses.
O Algarve
é o ocidente andaluz por excelência. (…) A geografia árabe sobre o Algarve
apresenta sucessivo enriquecimento. No século X, segundo a descrição do mouro
Razís, ou Arrazí, eram termos maiores algarvios o de Beja, o de Santarém, em
plena Balata, o de Lisboa, o de Ossónoba (Faro), o de Coimbra, e o da Exitania
(Egitânia). Coimbra e Egitânia consideravam-se como os limites norte do domínio
islâmico, já que, para cima de Coimbra,
no século XI, os reinos cristãos obteriam sucesso e poder. (…)
O esquema
topográfico demonstra que o nome de Portugal é tardio, uma vez que a
palavra só se formou durante o tempo da Reconquista, a meio do século XII. Portugal,
Bortugâl, começava acima de Santarém,
prolongando-se até ao rio Minho, tendo Coimbra como cidade maior. Como a língua
árabe não possui a letra p, o som é
substituído por b, o que dá ao nome
nacional uma equivalência a laranja, país das laranjas. A díade Portugal a norte e Algarve a sul foi aceite pelos árabes e
pelos conquistadores cristãos que, por isso, mantiveram, nos seus títulos, a
coalisão: Rei de Portugal e dos Algarves, porque, além do Andaluz, havia o
Algarve magrébico ou africano.
Os árabes
e os povos que vieram na sua frente – incluindo os egípcios – sempre viveram em
desertos; por isso ansiavam pelo oásis, a terra dos verdes e das águas, nadahah,
água e favor do céu. Em todo o caso, ainda que Ocidente se entenda por Fim, o
termo da cavalgada não era, nem o Andaluz, nem o Algarve, era a Terra Grande. Todavia,
os predicados de oásis do Andaluz funcionaram como elementos enfraquecedores. Oásis e Paraíso são duas palavras que surgem no contexto da Guerra Santa, já na
literatura bélica, já nos apologistas e geógrafos. (…) No Andaluz, capital do Magreb
Alacsa, ou Ocidental, a vegetação, a
brisa, o sol, os frutos, as águas, tudo é bom. As pessoas talentosas do Islão
nascem no Andaluz, onde se elevam o sol e a lua da ciência, terra de génios.
«Nenhum clima goza de temperatura mais igual, de um ar mais puro, de melhores
águas, de plantas mais olorosas, de rocios mais abundantes, de manhãs mais
gratas, de noites mais doces» [Al Marrakushi, Histoire des Almohades]. (…)
Comparadas com o Andaluz, Bagdade e Damasco eram o deserto. (…)”
Pinharanda Gomes, História da Filosofia
Portuguesa, 3- A Filosofia Arábigo-Portuguesa, Lisboa, Guimarães Editores,
1991, pp.39-41.
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