Antigo blogue do projeto novasoportunidades@biblioteca.esjs

Antigo blogue do projeto novasoportunidades@biblioteca.esjs, patrocinado pela Fundação Calouste Gulbenkian
Escola Secundária José Saramago - Mafra

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

MIGUEL TORGA SOBRE FERNANDO PESSOA I

Imagem daqui.


“Fernando Pessoa, na sua complexidade intelectual, originalidade e cultura, é um caso à parte, que o presente aceita já como grandeza sem par, e que o futuro há-de avolumar ainda. Rosa-dos-ventos com antenas em todas as direcções, a sua pena é uma agulha de sismógrafo, sensível e científica. A inteligência vibra nos seus versos com a intensidade da emoção. E as duas forças controlam-se e revigoram-se mutuamente. Acabou-se o derrame sentimental, a inspiração tumultuosa, o mau gosto. Entrou a disciplina no Parnaso: uma ordem imprevista, mágica e objectiva, e duma simplicidade que de tão genial parece infantil. Finalmente, uma flor é uma flor apenas. Mas sabe-se isso agora pela primeira vez. E sabe-se através de uma poesia que se recusa a ensinar, que diz para dentro, que se abstém o mais que pode dos ruídos da rima e do hipnotismo da eloquência.
Como certos acontecimentos que marcam o caminho da história, Fernando Pessoa é um acontecimento no mundo literário português. Não é um grande poeta a mais que aparece: é uma presença que baliza uma época.”

Miguel Torga, “Panorama da Literatura Portuguesa”, excerto da conferência realizada na Faculdade de Filosofia do Rio de Janeiro, em 17 de agosto de 1954, in Ensaios e Discursos, Lisboa, Publicações Dom Quixote, 2001, pp.162-163.

Sem comentários:

Enviar um comentário