Imagem daqui.
“Fernando Pessoa, na sua complexidade intelectual, originalidade e cultura, é um caso à parte, que o presente aceita já como grandeza sem par, e que o futuro há-de avolumar ainda. Rosa-dos-ventos com antenas em todas as direcções, a sua pena é uma agulha de sismógrafo, sensível e científica. A inteligência vibra nos seus versos com a intensidade da emoção. E as duas forças controlam-se e revigoram-se mutuamente. Acabou-se o derrame sentimental, a inspiração tumultuosa, o mau gosto. Entrou a disciplina no Parnaso: uma ordem imprevista, mágica e objectiva, e duma simplicidade que de tão genial parece infantil. Finalmente, uma flor é uma flor apenas. Mas sabe-se isso agora pela primeira vez. E sabe-se através de uma poesia que se recusa a ensinar, que diz para dentro, que se abstém o mais que pode dos ruídos da rima e do hipnotismo da eloquência.
Como certos
acontecimentos que marcam o caminho da história, Fernando Pessoa é um
acontecimento no mundo literário português. Não é um grande poeta a mais que
aparece: é uma presença que baliza uma época.”
Miguel Torga, “Panorama
da Literatura Portuguesa”, excerto da conferência realizada na Faculdade de Filosofia do
Rio de Janeiro, em 17 de agosto de 1954, in Ensaios
e Discursos, Lisboa, Publicações Dom Quixote, 2001, pp.162-163.
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